O trabalho por turnos pode ter um impacto significativo na saúde e bem-estar dos trabalhadores. Cabe aos Técnicos de Segurança e Saúde no Trabalho abordar este tema com o objetivo de definir esta tipologia de trabalho, identificar os riscos envolvidos e mencionar alternativas para minimizá-los e, consequentemente, melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores.
O QUE É O TRABALHO POR TURNOS?
A Lei n.º 7/2009, de 12 de fevereiro, define trabalho por turnos como “qualquer organização do trabalho em equipa em que os trabalhadores ocupam sucessivamente os mesmos postos de trabalho, a um determinado ritmo, incluindo o rotativo, contínuo ou descontínuo, podendo executar o trabalho a horas diferentes num dado período de dias ou semanas”.
Além disso os turnos podem ser caracterizados pelas seguintes tipologias:
- Permanente – trabalho prestado em todos os dias da semana;
- Semanal prolongado – trabalho prestado em todos os 5 dias úteis e no sábado ou domingo;
- Semanal – trabalho prestado de segunda-feira a sexta-feira;
- Total – trabalho prestado em, pelo menos, 3 períodos de trabalho diário;
- Parcial – trabalho prestado em dois períodos.
QUAIS SÃO AS CONSEQUÊNCIAS EXISTENTES PARA OS TRABALHADORES?
O trabalho por turnos perturba os ritmos biológicos do corpo, podendo originar dificuldades em dormir, problemas no trato digestivo (por adoção de uma incorreta dieta alimentar), fadiga crónica e uma maior probabilidade do aparecimento de doenças cardiovasculares. Para além disso, existe uma dificuldade em conciliar o trabalho com a vida pessoal, o que pode levar ao surgimento de problemas a nível psicológico como a irritabilidade e a depressão.
Todos os fatores mencionados anteriormente, salientando a fadiga e a sonolência diurna, contribuem para um aumento do risco de acidentes de trabalho.
QUAIS AS MEDIDAS MAIS ADEQUADAS PARA MINIMIZAR OS EFEITOS NEGATIVOS QUE OS TRABALHADORES POR TURNOS ESTÃO EXPOSTOS?
Após a identificação dos riscos suscetíveis de afetarem a qualidade de vida dos trabalhadores, é de notar a importância de minimizar esses impactos. As medidas de prevenção demonstram-se ser essenciais para reduzir esses riscos e por essa razão serão indicadas para as três principais categorias afetadas: “Sono e fadiga”, “Problemas alimentares e stress” e “Problemas familiares e ausência de lazer”.
BOAS PRÁTICAS PARA OS TRABALHADORES
Sono e fadiga
- Ter um quarto com cortinas/estores, usar protetores auriculares de espuma e máscaras para os olhos;
- Dormir em horários definidos para ajudar a estabelecer uma rotina.
Problemas alimentares e stress
- Adotar uma dieta saudável, minimizando o consumo de álcool, cafeína, açúcar, sal e gordura e optar por alimentos não processados;
- Manter um estilo de vida saudável (exercício físico e bons hábitos de sono nos dias de folga);
- Adotar técnicas de relaxamento, como respiração profunda e lenta.
Problemas familiares e ausência de lazer
- Programar pelo menos uma refeição diária com a família e planear atividades familiares;
- Planear atividades de desenvolvimento pessoal e prazerosas;
- Adotar um programa regular de exercícios, contribuindo para uma melhor qualidade e a quantidade do sono.
RECOMENDAÇÕES PARA OS EMPREGADORES
Sono e fadiga
- Programar o trabalho mais exigente no início do turno com intervalos mais curtos e frequentes;
- Alternar os turnos (manhã – tarde – noite), diminuindo ao máximo o turno noturno, garantindo, sempre, pelo menos 48 horas entre as mudanças de turno;
- Informar os seus colaboradores sobre as medidas que podem tomar para reduzir os efeitos negativos.
Problemas alimentares e stress
- Oferecer workshops e sessões informativas sobre gestão do stress;
- Certificar-se de que as exigências aos trabalhadores sejam razoáveis e alcançáveis;
- Fornecer um refeitório 24 horas onde os trabalhadores possam obter uma refeição quente e nutritiva.
Problemas familiares e ausência de lazer
- Oferecer atividades que incluam a família e filho dos trabalhadores;
- Oferecer workshops sobre comunicação e resolução de conflitos.
Posto isto, as medidas aplicadas devem ser combinadas minuciosamente para garantir o melhor equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
Prevenir a sua segurança e saúde é crucial!
Referências:
Lei n.o 7/2009, de 12 de fevereiro, Pub. L. No. aprova o Código de Trabalho (2009). https://diariodarepublica.pt/dr/legislacao-consolidada/lei/2009-34546475
Direção Geral da Administração e Emprego Público. (n.d.). TRABALHO POR TURNOS.
https://www.dgaep.gov.pt/stap/infoPage.cfm?objid=dd51b8b3-491a-40a9-98e8-d304ec8f132d&KeepThis=true
Ordem dos Psicólogos. (2018). O Trabalho Nocturno e por Turnos enquanto Riscos Psicossociais.
Ansiau, D., Marquié, J.-C., Tucker, P., & Folkard, S. (2015). Longitudinal study of the effects of shift work on health. The Heart of Health and Safety, 1–43. https://iosh.com/shiftworkhealth